terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Dependências como busca do sentido existencial e conexão espiritual.

"O fenômeno de dependência de drogas é algo que se prende à condição humana com diversas finalidades, desde a de apaziguar as dores, as angústias, as tristezas, até o de elevar aos deuses", escrevem os psiquiatras Antônio Pacheco Palha e João Romildo Bueno no prefácio do livro "Dependência de Drogas". 

A palavra “dependência”, geralmente é associada à dependência química (álcool, droga ou medicamentos), no entanto, existem outros tipos de dependência que também podem ser prejudiciais, mas que não são conhecidos, como a dependência emocional, sexual, por compras, alimentar, em atividade física, jogos e tecnológicas entre outras.


O homem contemporâneo demonstra estar ficando cada vez mais ansioso e desconectado com seu verdadeiro eixo existencial. Influenciado pela filosofia capitalista do consumo e do acúmulo, tanto de bens materiais quanto de informações e de novidades tecnológicas, que tornam os indivíduos, e suas estruturas familiares e sociais, em vítimas, ativos e passivos, de abusos, impulsos e compulsões das mais variadas formas e intensidades.


Há uma tendência em estimular esses comportamentos, ser consumistas e de certo modo até hedonistas. Tudo é voltado para a obtenção do prazer. O comportamento dos pais em exigir dos filhos desempenhos fantásticos em todos os aspectos da vida, esperando que seus filhos sejam muitos inteligentes, bonitos e satisfeitos. Não se ensina o mundo de verdade e a consequência é autoestima lá em baixo, frustração, a maioria das pessoas enredadas em algum tipo de repetição, fazendo-as dependentes das emoções e da respectiva condição bioquímica produzida por essas repetições. Por isso, vão surgindo condicionamentos nos âmbitos corporais e interpessoais.


É o prazer que explica por que é possível ficar dependente. Há uma região no cérebro, conhecida como sistema de recompensa, que é ativada por substâncias presentes tanto nas drogas quanto no nosso próprio corpo (hormônios e neurotransmissores) e que são liberadas quando passamos por estresse, excitação, alegria etc. Esse comportamento do cérebro é que nos faz ter motivação para tocar a vida. Diante de certos comportamentos ou consumo excessivo de uma substância, o sistema de recompensa é ativado ao extremo e, por proteção, acaba se dessenbilizando.


O problema é que essa dessensibilização do sistema de recompensa gera uma espécie de déficit de satisfação. No estado natural todos temos um nível médio de ativação do sistema de recompensa. Entre os dependentes, o nível fica abaixo do normal. É por isso que a vida da pessoa passa a orbitar ao redor do vício, que vira ideia fixa. Tudo o que a pessoa faz está centrado em como conseguir mais daquela “coisa". E não faz diferença se é uma dependência química ou não química. Todas passam pelo excesso de ativação e dessenbilização do sistema de recompensa.


O indivíduo vai trocando de dependência e mascara o problema dele independente do vício. O efeito é o mesmo. Em todos os casos está por trás a busca do prazer e a perda do controle.  Cada um escolhe a sua droga de preferência, mas na falta dela, qualquer outra serve para ativar o sistema de recompensa. É a vulnerabilidade social que faz com que as pessoas se apeguem a todo tipo de coisa.


A pessoa dependente quase sempre perde, por algum tempo, a estabilidade constituída para conduzir o dia a dia. Isso pode favorecer o enfraquecimento da motivação para viver, o isolamento e a depressão. Solidão, vazio, desesperança e desamparo são palavras utilizadas, com frequência, por pessoas dependentes para exprimirem seus estados emocionais. Nessas e em outras condições, muitas pessoas buscam um novo significado e propósito para suas vidas.


Crenças e práticas religiosas podem reduzir a sensação de perda do controle e de desamparo; podem fornecer uma estrutura cognitiva capaz de diminuir o sofrimento e, ainda, fortalecer o indivíduo para reconstrução de sua vida. A raiz da palavra religião (religare) exprime o sentido de volta à essência, retorno à origem criadora da vida.


Pesquisas científicas sugerem que a autoconfiança necessária à superação da dependência envolve três dimensões:

  1. A motivação de encontrar sentido na vida diária.
  2. A crença de que se pode influenciar o entorno e os resultados dos eventos.
  3. A opinião de que se pode aprender e crescer a partir das experiências positivas e negativas.

Esses aspectos predispõem à confiança, ao suporte social e à superação das adversidades. Há 15 anos a Psicologia e a Psiquiatria têm estudado os diferenciais de comportamentos dos numerosos indivíduos que superam grandes dificuldades. O fortalecimento das virtudes e do caráter (coragem, justiça, temperança, sabedoria, paciência, gratidão, solidariedade, persistência, amor e esperança) esteve relacionado ao crescimento dessas pessoas após o enfrentamento e a superação de importantes dificuldades.


Um objetivo bem demarcado e a disciplina no dia a dia fortalecida na motivação de construir uma vida verdadeiramente melhor são ingredientes decisivos à prosperidade dessas pessoas dependentes.

Caso você tenha se identificado com alguma situação acima, procure um profissional capacitado e responsável para lhe ajudar a superar qualquer tipo de dependência e viver com maior segurança e tranquilidade e menor ansiedade, angústia, irritabilidade e nervosismo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário