"O fenômeno de dependência de drogas é algo que se
prende à condição humana com diversas finalidades, desde a de apaziguar as
dores, as angústias, as tristezas, até o de elevar aos deuses", escrevem
os psiquiatras Antônio Pacheco Palha e João Romildo Bueno no prefácio do livro
"Dependência de Drogas".
A palavra “dependência”, geralmente é associada à dependência
química (álcool, droga ou medicamentos), no entanto, existem outros tipos de
dependência que também podem ser prejudiciais, mas que não são conhecidos, como
a dependência emocional, sexual, por compras, alimentar, em atividade física,
jogos e tecnológicas entre outras.
O homem contemporâneo demonstra estar ficando cada vez mais
ansioso e desconectado com seu verdadeiro eixo existencial. Influenciado pela
filosofia capitalista do consumo e do acúmulo, tanto de bens materiais quanto
de informações e de novidades tecnológicas, que tornam os indivíduos, e suas
estruturas familiares e sociais, em vítimas, ativos e passivos, de abusos,
impulsos e compulsões das mais variadas formas e intensidades.
Há uma tendência em estimular esses comportamentos, ser
consumistas e de certo modo até hedonistas. Tudo é voltado para a obtenção do
prazer. O comportamento dos pais em exigir dos filhos desempenhos fantásticos
em todos os aspectos da vida, esperando que seus filhos sejam muitos
inteligentes, bonitos e satisfeitos. Não se ensina o mundo de verdade e a consequência
é autoestima lá em baixo, frustração, a maioria das pessoas enredadas em algum
tipo de repetição, fazendo-as dependentes das emoções e da respectiva condição
bioquímica produzida por essas repetições. Por isso, vão surgindo condicionamentos
nos âmbitos corporais e interpessoais.
É o prazer que explica por que é possível ficar dependente.
Há uma região no cérebro, conhecida como sistema de recompensa, que é ativada
por substâncias presentes tanto nas drogas quanto no nosso próprio corpo
(hormônios e neurotransmissores) e que são liberadas quando passamos por
estresse, excitação, alegria etc. Esse comportamento do cérebro é que nos faz
ter motivação para tocar a vida. Diante de certos comportamentos ou consumo
excessivo de uma substância, o sistema de recompensa é ativado ao extremo e,
por proteção, acaba se dessenbilizando.
O problema é que essa dessensibilização do sistema de
recompensa gera uma espécie de déficit de satisfação. No estado natural todos
temos um nível médio de ativação do sistema de recompensa. Entre os
dependentes, o nível fica abaixo do normal. É por isso que a vida da pessoa
passa a orbitar ao redor do vício, que vira ideia fixa. Tudo o que a pessoa faz
está centrado em como conseguir mais daquela “coisa". E não faz diferença
se é uma dependência química ou não química. Todas passam pelo excesso de
ativação e dessenbilização do sistema de recompensa.
O indivíduo vai trocando de dependência e mascara o problema
dele independente do vício. O efeito é o mesmo. Em todos os casos está por trás
a busca do prazer e a perda do controle. Cada um escolhe a sua droga de
preferência, mas na falta dela, qualquer outra serve para ativar o sistema de
recompensa. É a vulnerabilidade social que faz com que as pessoas se apeguem a
todo tipo de coisa.
A pessoa dependente quase sempre perde, por algum tempo, a
estabilidade constituída para conduzir o dia a dia. Isso pode favorecer o
enfraquecimento da motivação para viver, o isolamento e a depressão. Solidão,
vazio, desesperança e desamparo são palavras utilizadas, com frequência, por
pessoas dependentes para exprimirem seus estados emocionais. Nessas e em outras
condições, muitas pessoas buscam um novo significado e propósito para suas
vidas.
Crenças e práticas religiosas podem reduzir a sensação de
perda do controle e de desamparo; podem fornecer uma estrutura cognitiva capaz
de diminuir o sofrimento e, ainda, fortalecer o indivíduo para reconstrução de
sua vida. A raiz da palavra religião (religare) exprime
o sentido de volta à essência, retorno à origem criadora da vida.
Pesquisas científicas sugerem que a autoconfiança
necessária à superação da dependência envolve três dimensões:
- A motivação de encontrar sentido na vida diária.
- A crença de que se pode influenciar o entorno e os resultados dos eventos.
- A opinião de que se pode aprender e crescer a partir das experiências positivas e negativas.
Esses aspectos predispõem à confiança, ao suporte
social e à superação das adversidades. Há 15 anos a Psicologia e a Psiquiatria
têm estudado os diferenciais de comportamentos dos numerosos indivíduos que
superam grandes dificuldades. O fortalecimento das virtudes e do caráter
(coragem, justiça, temperança, sabedoria, paciência, gratidão, solidariedade,
persistência, amor e esperança) esteve relacionado ao crescimento dessas
pessoas após o enfrentamento e a superação de importantes dificuldades.
Um objetivo bem demarcado e a disciplina no dia a dia
fortalecida na motivação de construir uma vida verdadeiramente melhor são
ingredientes decisivos à prosperidade dessas pessoas dependentes.
Caso você tenha se identificado com alguma situação acima,
procure um profissional capacitado e responsável para lhe ajudar a superar
qualquer tipo de dependência e viver com maior segurança e tranquilidade e
menor ansiedade, angústia, irritabilidade e nervosismo.